Nunca foi, é ou será minha frágil
intenção
ofender a Deus, em sã consciência,
na pessoa de quem quer que seja
não somente meu irmão
de contingências.
Por que, então, temer
a quem nunca desejei magoar?
Pecar, nem sei o que é ou será.
Basta-me viver e admirar quem fez
a beleza dessa exemplar natureza.
Aprendi a rezar pelos todos mistérios
e os prazeres que sinto e não
minto.
Se Adão pecou porque Eva o
inspirou,
só posso imaginar a força de seu desejo,
mas não vejo motivo de punição. Isso não!
Há quem desconhece, com razão,
quem foram Eva e Adão, Caim e Abel,
Jacó, Labão, Sansão e Betsabá,
nem Cristo, filho do Altíssimo,
de pés no chão, morto na cruz,
que veio retirar o semelhante do
cercado,
frutos mais da fértil imaginação
que do pecado e da sempiterna perdição.
Ninguém pode ter nascido da
ingratidão,
com mancha de ofensa sem complacência,
nem mesmo Adão, no apego da
dormência.
Nem Maria já no pensamento de Deus,
como também o piedoso Jó, você e
eu,
desde antes da Criação da luz e da
ciência.
Por que teria de ser só uma Senhora
imaculada,
a ser a mãe do Filho, pelo Espírito
de Deus,
que, um dia, viria tirar o pecado do
mundo,
se nem existia castigo a quem não mereceu?